Ainda mais fugitivo que o jornal

Junho 21, 2008

O ecrã é um ambiente de leitura que mimetiza o céu, não a terra. Bombardeia o olho com luz em vez de esperar por dar retorno ao dom da visão. Não é simultaneamente tranquilo e vívido como um campo cheio de flores, ou a cara de um ser humano pensante, ou uma página tipográfica bem feita. E nós lemos o ecrã da mesma maneira que lemos o céu: em passos rápidos, adivinhando o tempo a partir das alterações das formas das nuvens, ou como astrónomos, em pequenos bits ampliados, analisando os pormenores. Olhamos para procuramos pistas e revelações, mais do que sabedoria. Isto torna-o um meio atraente para anunciar e dogmatizar, mas um lugar não tão bom para texto reflexivo.

Frases longas e complexas cheias de palavras estranhas têm poucas hipóteses. No texto, as subtilezas e delicadezas das letras têm poucas hipóteses também. Caracteres elevados (como expoentes) ou rebaixados (como índices), notas de rodapé, notas finais e notas laterais desaparecem. Na luz agressiva e na resolução fraca do ecrã, tais acessórios da literatura são difíceis de ver; pior ainda, eles contradizem a ilusão da velocidade. 
Todos os subtextos podem, então, ter o mesmo tamanho, e os leitores têm a liberdade de saltar de texto para texto como crianças a mudar de canais na televisão. Quando a leitura assume esta forma, tanto as frases como a forma das letras requerem simplicidade.
Formas oriundas da imprensa e sinalética têm mais probabilidades de sobreviver. Bons tipos de letra para texto no ecrã têm assim, como regra, caixas com pouco contraste, um corpo grande, olho da letra (espaço oco) aberto, terminações sólidas, e patilhas curtas ou nenhumas patilhas de todo.

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[Este texto é uma tradução livre e reelaboração de algumas reflexões a partir do livro de Robert Bringhurst, The Elements of Typographic Style (version 2.5), considerado a “Bíblia da Tipografia”]